JOJOSCOPE CONEXAO BRASIL JAPAO |
Posted: 21 Jun 2020 10:24 AM PDT
Década de 1930. Quando os
imigrantes japoneses se assentaram no noroeste do
Estado de São Paulo e no norte do Paraná, surgiu uma atividade que lembra um pouco o circo itinerante. Eram os shinema-ya, projecionistas ambulantes de cinema, que levavam projetor, tela e muita paixão pelo cinema para estas comunidades. Eram como vendedores de ilusões, que matavam a saudade da terra de onde vieram estes imigrantes, por uma hora e pouco. Os projecionistas conectavam os imigrantes a um universo de imagens onde eles podiam nadar em imaginações, relembrando o país que tinham deixado. As narrativas variavam de romances a dramas, passando por estórias de samurais, ninjas e princesas. Na falta de jornais e rádio, o cinema projetado no campo era uma maneira de se atualizar com as tendências do Japão, suspirar com os atores e as paisagens e até sonhar em, um dia, voltar para o local onde o sol nascia. Umaretewa mitakeredo), de 1932, um clássico do cinema mudo, dirigido por Ozu Yasujiro. ¢ Shochiku
A chegada dos shinema-ya era
aguardada por toda a comunidade,
com muitas semanas de antecedência, como um circo. Até panfletos, manuscritos e desenhados à mão, eram distribuídos antecipadamente, para aumentar a expectativa. As comunidades sonhavam com o filme que iria chegar, como crianças esperando o Papai Noel. Era um dos poucos momentos de lazer na árdua rotina das plantações. Shinema-ya, que percorria a região noroeste do Estado de São Paulo, levando filmes que eram projetados ao ar livre. Foto: arquivo da Família Taneko Honda, do Museu Saburo Yamanaka, de Bastos
As sessões de cinema no campo se
iniciaram já com o cinema mudo.
Os projecionistas, muitas vezes, eram também os benshi (弁士), narradores que faziam as vozes dos atores, homens, mulheres, idosos ou jovens e também narravam como apresentadores. Um benshi era um show-man. Ele abria a sessão de cinema dando um resumo da história, falava sobre os atores e ainda sugeria prestar atenção em determinadas cenas, dando rápidos spoilers. Por vezes, o benshi extrapolava suas funções. Ele até explicava para público o significado de determinadas cenas. Isso ocorria especialmente nas projeções de cinema ocidental, quando o benshi complementava sua narração com explicações sobre o costume dos europeus e americanos.
Mesmo com o advento do cinema
falado, os shinema-ya
continuaram
a sua peregrinação pelas comunidades japonesas, agora na companhia de caixas acústicas. Muitos colonos brasileiros assistiam aos filmes, por curiosidade. Afinal, era um grande acontecimento que reunia todo mundo à frente da tela, com muito chá verde, oniguiri (bolinhos de arroz) e petiscos.
A cineasta Olga Futemma, à frente
da Cinemateca Brasileira
há 35 anos, prestou uma homenagem aos shinema-ya, com o belíssimo curta “Chá Verde e Arroz”. O título aliás, é outra homenagem a um clássico de Ozu Yasujiro, “O Sabor do Chá Verde sobre o Arroz” (お茶漬けの味), de 1952. Olga Futemma, curta-metragista, é coordenadora-geral da Cinemateca Brasileira. Pesquisadora e gestora cultural, Olga tem se dedicado à preservação da memória do cinema brasileiro.
Chá verde e arroz
PARA ASSISTIR O FILME “CHÁ VERDE E ARROZ” NA ÍNTEGRA Foto: fotogramas do filme
O curta foi exibido em salas
restritas. No Cine Bijou (São Paulo), por exemplo, fez par com “Cinema
Paradiso”, de Giuseppe Tornatore. Ambos os filmes têm como tema a relação de
uma criança com o cinema.
Leia também, o lindo artigo que
Olga Futemma escreveu sobre os cinemas japoneses do bairro da Liberdade em
São Paulo.
Clique aqui > NINJAS, PRINCESAS E CARAMELOS
E no Japão, onde nasceu e
floresceu a arte dos benshi,
foi lançado em dezembro de 2019, o filme Katsuben (カツベン) dirigido por Suo
Masayuki (o mesmo que dirigiu o sucesso de bilheteria “Shall
We Dance”, que teve até uma refilmagem americana).
dezembro de 2019 nos cinemas do Japão. Clique na imagem para assistir ao trailer (em japonês).
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