martes, 23 de junio de 2020

JOJOSCOPE CONEXAO BRASIL JAPAO




Posted: 21 Jun 2020 10:24 AM PDT
Década de 1930. Quando os imigrantes japoneses se assentaram no noroeste do 
Estado de São Paulo e no norte do Paraná, surgiu uma atividade que lembra 
um pouco o circo itinerante. Eram os shinema-ya, projecionistas ambulantes 
de cinema, que levavam projetor, tela e muita paixão pelo cinema para
 estas comunidades. Eram como vendedores de ilusões, que matavam a saudade
 da terra de onde vieram estes imigrantes, por uma hora e pouco.
 Os projecionistas conectavam os imigrantes a um universo de imagens
 onde eles podiam nadar em imaginações, relembrando o país
 que tinham deixado. As narrativas variavam de romances a dramas,
 passando por estórias de samurais, ninjas e princesas. Na falta de jornais e rádio, 
o cinema projetado no campo era uma maneira de se atualizar com as tendências 
do Japão, suspirar com os atores e as paisagens e até sonhar em, um dia, voltar para
 o local onde o sol nascia.
“Eu nasci, mas…” (
Umaretewa mitakeredo),
de 1932, um clássico do cinema mudo, dirigido por 
Ozu Yasujiro. ¢ Shochiku
A chegada dos shinema-ya era aguardada por toda a comunidade, 
com muitas semanas de 
antecedência, como um circo. Até panfletos, manuscritos e desenhados
 à mão, eram 
distribuídos antecipadamente, para aumentar a expectativa.
 As comunidades 
sonhavam com o filme que iria chegar, como crianças esperando 
o Papai Noel. 
Era um dos poucos momentos de lazer na árdua rotina das plantações. 
Uma trupe de
 Shinema-ya,
 que percorria a região noroeste do Estado de São Paulo, levando
 filmes que eram 
projetados ao ar livre. Foto: arquivo da Família Taneko Honda, do 
Museu Saburo Yamanaka, de Bastos
As sessões de cinema no campo se iniciaram já com o cinema mudo.
 Os projecionistas, 
muitas vezes, eram também os benshi (弁士), narradores que
 faziam as 
 vozes dos atores, homens, mulheres, idosos ou jovens e também
 narravam como 
 apresentadores. Um benshi era um show-man. Ele abria a
 sessão de cinema
 dando um resumo da história, falava sobre os atores e ainda 
sugeria prestar atenção 
em determinadas cenas, dando rápidos spoilers. Por vezes, o
benshi extrapolava
 suas funções. Ele até explicava para público o significado de 
determinadas cenas. 
 Isso ocorria especialmente nas projeções de cinema ocidental, 
quando o benshi
complementava sua narração com explicações sobre o costume 
dos europeus e americanos.
Mesmo com o advento do cinema falado, os shinema-ya continuaram
 a sua 
peregrinação pelas comunidades japonesas, agora na companhia de 
caixas acústicas. Muitos colonos brasileiros assistiam aos filmes, 
por curiosidade. Afinal, era um grande acontecimento que reunia
 todo mundo à frente da tela, com muito chá verde, oniguiri 
(bolinhos de arroz) e petiscos.
A cineasta Olga Futemma, à frente da Cinemateca Brasileira
 há 35 anos, prestou uma homenagem aos shinema-ya, com o belíssimo curta
 “Chá Verde e Arroz”. O título aliás, é outra homenagem a um clássico de 
Ozu Yasujiro, “O Sabor do Chá Verde sobre o Arroz” (お茶漬けの味), de 1952. 

Olga Futemma, curta-metragista, é coordenadora-geral da Cinemateca Brasileira. 
 Pesquisadora e gestora cultural, Olga tem se dedicado à preservação da memória do
 cinema brasileiro. 
Chá verde e arroz
  • Direção: Olga Futemma
  • Companhia Produtora: Tapiri Cinematográfica
  • Ano: 1989
CLIQUE NA IMAGEM 

PARA ASSISTIR O FILME “CHÁ VERDE E ARROZ” NA ÍNTEGRA Foto: fotogramas do filme Olga Futemma dirige os atores, durante a filmagem de “Chá Verde e Arroz”. Foto: arquivo pessoal
O curta foi exibido em salas restritas. No Cine Bijou (São Paulo), por exemplo, fez par com “Cinema Paradiso”, de Giuseppe Tornatore. Ambos os filmes têm como tema a relação de uma criança com o cinema. 
Leia também, o lindo artigo que Olga Futemma escreveu sobre os cinemas japoneses do bairro da Liberdade em São Paulo.
Clique aqui > NINJAS, PRINCESAS E CARAMELOS 
E no Japão, onde nasceu e floresceu a arte dos benshi, foi lançado em dezembro de 2019, o filme Katsuben (カツベン) dirigido por Suo Masayuki (o mesmo que dirigiu o sucesso de bilheteria “Shall We Dance”, que teve até uma refilmagem americana). 
Cartaz de “Katsuben” de Suo Masayuki, que estreou em
 dezembro de 2019 nos cinemas do Japão. Clique na imagem para assistir ao trailer (em japonês).
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